A cura
Curar é restabelecer-se
Uósnei Moncorvo
A ideação suicida, aparece como parte de um processo.
Em geral, de uma situação que promove sentimentos com os quais não sabemos lidar. Estes sentimentos são tão intensos e desagradáveis, e as ideias que os acompanham tão desesperadoras, que parece não haver qualquer saída, a não ser findar a vida, para que eles acabem.
Sabemos que jamais deveremos menosprezar a queixa desse gênero.
Não nos cabe a omissão em relação a ajuda profissional, nem aos ouvidos amigos e presenças familiares para o atravessamento deste processo.
Quando necessário, jamais recusar a prescrição medicamentosa.
Entretanto, cabe considerar Humberto de Campos, através da mediunidade de Chico Xavier, quando narra um caso complexo de adoecimento mental, de sofrimento psíquico, que chega a ser categorizado pela medicina como esquizofrenia. Queremos o considerar em razão da intensidade do sofrimento, o que é um elemento comum aos processos que geram ideação suicida.
O autor descreve a situação de Acácio Garcia. Um jovem, que demonstrava desalento e intensa melancolia, traduzida no rosto imensamente abatido. Que se isolava, e não sentia qualquer prazer por atividade alguma. A família era espírita, e já havia percorrido muitos consultórios médicos buscando tratamento, tentando identificar causas, sem ter sucesso.
Também na instituição espírita, e por diversas outras casas, em diferentes processos de tratamento e acompanhamento, não haviam obtido sucesso. Eram dez anos de intervenções médicas e espirituais, de gastos e de sofrimentos familiares sem encontrar solução. Havia a firme convicção de ser uma obsessão espiritual, e nesse tópico insistiam os atendimentos espirituais.
Acácio oferecia resistência, a ir a reuniões doutrinárias, e mesmo aos atendimentos, isolava-se de tudo e de todos. Achava pontos a censurar em quem quer que o acompanhasse e/ou aventurava-se a lhe tratar ou esclarecer. O jovem se tornou, além de esquivo, agressivo e de convivência quase impossível.
No último processo de tratamento que a família resolve tentar uma entidade começa a comparecer para dar orientações, seu nome: “Filopatos”.
– Lembra-te, Acácio, que recebeste oportunidade santa de trabalhar na Terra em benefício de ti mesmo. Faz-se indispensável não conceder tamanha importância às impressões nervosas. Levanta-te do torpor espiritual de tantos anos. Não te cansaste ainda dessa atmosfera de queixas, insulamento e enfermidade? Aprende a seguir o dia, cada vez que o dia ressurja! A vida é um cântico de trabalho e criação incessantes. Não te detenhas no túmulo das preocupações inferiores. Busca a convivência dos familiares, dos amigos, dos irmãos de luta, e, sobretudo, não deixes a confiança em Deus fora do coração, recordando que permaneceremos contigo.
O amigo espiritual, associa a cura ao abandono da condição doentia, que havia se tornado companheira constante do jovem! Alimentada, acalentada. Um túmulo de morte. Parar de agarrar-se a doença psíquica.
Esse posicionamento é percebido em muitos que se identificam com a doença, utilizando o rótulo da depressão, ou de outros transtornos mentais.
Não se trata de negar a existência do problema, mas de aprender a convivência, sem vitimização. Dispor-se a ir ao encontro de um dia por vez. Ao enfrentamento. Não ter pena de si mesmos.
O nome da entidade, Filopatos, significa amigo das doenças, ou dos doentes.
Os presentes se surpreendem, e o doente se aborrece tremendamente. Queria um receituário. Uma prescrição. Algo que solucionasse o problema.
Após alguns retornos e orientações, o espirito encontra-se em sonho com o jovem, e lhe concede a prescrição exigida:
“Indicação: – Dez horas de serviço ativo por dia. Muitas dificuldades e pouco dinheiro. Nuvens de preocupação e chuvas de suor." “Modo de usar: – Entregar-se ao trabalho de boa-vontade a fim de encontrar o tesouro do espírito do serviço. Encarar as dificuldades como instrutoras; aprender a alcançar muita espiritualidade com reduzidas possibilidades materiais. Aceitar as nuvens de preocupação e as chuvas de suor como elementos indispensáveis à sementeira e à, colheita nas terras da vida.”
Podemos ler na íntegra o conto, no capítulo 24 de Reportagens de Além Túmulo, mas a questão principal é que um espírito doente, mental, emocional ou fisicamente, precisa do trabalho pessoal e pelos outros para curar-se.
Precisamos do aprendizado fornecido pelas dores e problemas, pela convivência com estes, e não de soluções repentinas e mágicas, ou fugas espetaculares. Precisamos construir a superação.
Necessitamos olhar para dentro e para fora. De escuridão e de luz para aprendermos a diferenciação.
O que não nos cabe é finalizar a vida do corpo, pois a do espírito não termina, e seremos convidados a retornar e retomar do ponto onde interrompemos a batalha do aprendizado anteriormente.
A mensagem do espírito é intitulada: a Estranha Indicação, e no início do processo é recomendado a Acácio tomar uma ducha de água gelada para começar o dia! O choque com a realidade. Abandonar o conforto da inação e da queixa.
Que não somente no ‘Setembro Amarelo’ possamos acolher a quem sofre e ajudar com todos os recursos disponíveis. Mas também, que aquele que sofre, possa descobrir -se capaz de sua própria cura, sempre amparado pelo amor fraterno!
(...) Se não tenho outra saída,
Se desejo acabar com tudo,
Se a morte é certa,
Por que não me matar?
Por quê? Por que não?!
…
Por que não?
Porque …
Eu sou usufrutuário de meu corpo, que me é concedido por empréstimo divino,
Eu sou responsável pelos meus atos e assumirei as consequências de minhas escolhas,
Eu descobrirei o sentido da vida nos objetivos que alcançarei, preenchendo o vazio existencial, sendo útil a alguém,
Eu sou capaz de vencer todos os obstáculos do caminho; o tempo é o melhor remédio,
Eu nunca estou só ou abandonado, a não ser por mim mesmo,
Eu posso me abrir para receber ajuda, sem me desvalorizar por isso,
Eu sempre terei pelo menos duas opções; a melhor escolha depende de mim mesmo,
Eu sou incapaz de extinguir a Vida; a ideia do fim de tudo é uma ilusão,
Eu entenderei que a passagem é certa quando eu for convidado pelas forças da Vida,
Porque a morte não existe; eu sou um Espírito imortal, continuarei sempre vivo.
*
Se a ideia de tirar a sua própria vida já lhe passou pela cabeça ou se conhece alguém nessa situação – familiar, parente, amigo, colega… –, não se omita.
Procure ajuda ou auxilie.
Não se abandone ou esteja presente.
Busque ou aponte caminhos.
Sinta ou alimente esperança.
A vida é sempre a melhor opção.
A vida é a mais bela sinfonia de amor e luz que o Divino Poder organizou (Martins Peralva – Estudando a mediunidade).
Vale a pena viver, sempre!…
FONTE: FEB. https://www.febnet.org.br/blog/geral/suicidio-por-que-nao/
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