A PRIMEIRA CARIDADE
A caridade, sem dúvidas, é um dos pilares fundamentais da vivência prática do Espiritismo na Terra.
Entretanto, falta-nos a consciência e entendimento de onde se encontra seu exercício mais genuíno, no lar.
Lar que se desdobra por extensões de dentro e de fora.
Em primeiro lugar, queremos convidar você à reflexão sobre o primeiro lar que nos foi concedido pela sabedoria divina, a consciência.
Isso mesmo, falta-nos consciência da caridade que devemos para com ela, a nossa primeira e eterna casa.
Talvez você esteja se perguntando se não seria o espírito, a centelha de existência, a primeira. E lhe diremos que tens razão. Contudo, para que lhe sobrevenha o espírito como ser, o uso da palavra consciência far-se-á necessário de forma primária.
A filosofia humana levou séculos para construir um arcabouço metódico e racional do que significa consciência, a fim de que chegássemos a premissas lógicas mais tangíveis.
Se fossemos resumir em poucas palavras, poderíamos definir consciência como a percepção do ser, em si mesmo, refletida no semelhante, como o desabrochar da maturidade psicológica.
Sendo assim, precisamos desenvolver o conceito da caridade dentro da nossa consciência existencial.
A caridade, irmã nobre do amor, requer a presença de uma palavra chave que utilizamos muito: transferência.
E, sob todos os princípios físico-químicos que regem o universo, não há como se falar em transferência vazia.
Quem transfere, transfere algo que possui.
Em outras palavras, é preciso ter caridade para consigo para exercê-la em sua condição genuína ao próximo.
É nesse ponto que aqueles que possuem apego às paixões mundanas se perdem desenfreadamente.
Ter caridade consigo não implica em colocar-se à frente da coletividade, como guardião estéril das próprias vontades, como prioridade nos planos de Deus. Não é clamar para que o próximo seja sempre próximo e nós os primeiros, os eleitos, os escolhidos do Senhor. Qualquer máxima que se aproxime dessa percepção destoa do que queremos elencar como caridade para consigo mesmo, alcançando em muito a noção egoística, adoecida do egocentrismo.
Muitos ainda propagam essa ideia como uma forma de protegerem-se das armadilhas da vida em sociedade. É louvável o intuito, seus efeitos, contudo, são nefastos ao progresso do ser consciente da sua condição espiritual.
Compreendemos que é preciso buscar o equilíbrio, o domínio próprio entre as paixões do mundo e os desígnios que nos propomos a executar nesse planeta. Visto que estamos na Terra, e por isso, é natural que ela dialogue conosco, mas é preciso lembrar, não somos daqui, somos seres espirituais.
Lidaremos com as mais diversas faces da dúvida, até que alcancemos as certezas da nossa essência. Sob essa perspectiva, é que surge como aliada a caridade do lar interior.
É preciso aceitar os liames do progresso individual que já foi conquistado por nós. Quando entendemos e aceitamos nossos pontos em deficiência aprendemos muito sobre respeitar o tempo de maturação da nossa consciência e também compreendemos melhor o tempo alheio, sem a ansiedade débil de quem quer apressar o ritmo natural das coisas.
Sem perceber por qual motivo queremos alcançar o outro com nossa atitude benéfica, caminharemos à frustração certeira que nos aguarda na senda do desânimo da ingratidão.
Explicamos: quando fazemos algo que entendemos ser bom ao outro sem reconhecermos as razões de forma bem assentada em nossa consciência, tendemos a frustração compatível com nossas fraquezas. Aquele que é mais vulnerável aos elogios e méritos, sofrerá em dobro com as críticas e ausência destes.
Você poderá pensar: todos estão suscetíveis ao sofrimento pela ingratidão. De algum modo, sim, mas não no mesmo grau. O sofrimento será exponencialmente sentido com base na ausência da caridade genuína, dentro do lar interior, e da intensidade das paixões que o sujeito ainda se prende para exercer essa caridade externa.
Sem a condição de entender, com amor, o estágio em que estamos, não desenvolveremos os músculos que sustentarão os estágios mais avançados, porque sucumbiremos antes mesmo de alcançá-los.
É preciso, então, que retomemos à ideia inicial.
A caridade precisa ser vivida de forma genuína, no lar, que já falamos que se desdobra de forma interna, consciência. Mas o que seria a forma externa?
Em nosso sentir, lar exterior é a casa de relações que vamos alcançar, o círculo social que iremos atingir. As pessoas que compõem nossa trajetória.
Aquelas que conhecemos primeiro, que chamamos de família, devemos debruçar nosso olhar mais generoso. É nela que teremos as primeiras oportunidades de praticar a caridade, que por vezes, buscamos lá fora.
Antes de alcançar as multidões com a benção caridosa, precisamos exercitá-la dentro, de nós mesmos e dos nossos companheiros mais próximos de jornada.
Lembremo-nos sempre da transferência, não como relação de troca, mas como advertência de que não podemos estender ao mundo, o que não praticamos dentro nós mesmos e no nosso círculo mais íntimo.
Fora da caridade não há salvação, porque ela é ato de operação do amor, com toda a sua complexidade, que nos exalta a sentir e praticar Cristo em todas as mais ínfimas esferas da nossa jornada.
"(...) O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se ele deseja assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.
(...) Quanto maior é o mal mais horrível se torna. Era necessário que o egoísmo produzisse muito mal para fazer compreender a necessidade de sua extirpação. Quando os homens se tiverem despido do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, não se fazendo o mal e se ajudando reciprocamente pelo sentimento fraterno de solidariedade. Então o forte será o apoio e não o opressor do fraco, e não mais se verão homens desprovidos do necessário, porque todos praticarão a lei de justiça. Esse é o reino do bem que os Espíritos estão encarregados de preparar
(O Livro dos Espíritos, questões 916/917 - Allan Kardec).
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Paz e Bem!
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