No mês de março, relembramos a força que tem a mulher como protagonista na História da Humanidade. Entre elas, apresentamos para nossa reflexão, outras faces da história de vida de Maria de Magdala, essa marcante mulher que conviveu com Jesus Cristo.
A vida de Maria de Magdala – “equívocos” e verdades
(Viviane Pádua)
No Livro dos Espíritos, no capítulo VIII, onde trata-se da Lei do Progresso, na questão 798, temos a seguinte referência: “A.K.: As ideias só com o tempo se transformam; nunca de súbito. De geração em geração, elas se enfraquecem e acabam por desaparecer, paulatinamente, com os que as professavam, os quais vêm a ser substituídos por outros indivíduos imbuídos de novos princípios, como sucede com as ideias políticas. Vede o paganismo. Não há hoje mais quem professe as ideias religiosas dos tempos pagãos. Todavia, muitos séculos após o advento do Cristianismo, delas ainda restavam vestígios, que somente a completa renovação das raças conseguiu apagar. Assim será com o Espiritismo. Ele progride muito; mas, durante duas ou três gerações, ainda haverá um fermento de incredulidade, que unicamente o tempo aniquilará. ”
É fundamental entendermos esse conceito de transformação paulatina das ideias para que possamos refletir sobre os inúmeros “equívocos” que pairam sobre a vida de Maria de Magdala ou Maria Madalena, ou Maria Miryam de Mágdala, compreendendo que o nome Maria era um nome bastante comum antes mesmo da época do Cristo. Nos evangelhos canônicos (aqueles que foram “escolhidos” para compor a Bíblia, pois sabemos que existem outros evangelhos que não foram publicados até hoje), muitas mulheres são citadas como Maria: a mãe de Jesus, a irmã de Lázaro; assim como, outras que apenas são citadas como “aquela mulher”, “uma certa mulher” tendo seus nomes não mencionados.
Se fizermos um levantamento rápido com algumas pessoas sobre quem foi Maria Madalena, a grande maioria trará questões como: foi uma prostituta que se converteu ao Cristianismo, foi a mulher que lavou os pés de Jesus, a mulher que quase foi apedrejada... Por conta dessa multiplicidade de Marias e mulheres anônimas citadas na Bíblia, ao longo da história esse imaginário foi sendo construído em torno da memória desta mulher.
Iniciemos a desvendar esses “equívocos”, trazendo alguns conhecimentos que iluminarão essa história. No ano de 1896, foi encontrado o Evangelho gnóstico (corrente filosófica cristã que proclama uma teologia baseada na busca de Deus dentro da consciência pessoal) de Maria e no ano de 1945, são encontrados os livros que compõem a famosa biblioteca de NagHammadi, no Egito, contendo escritos sobre o período em que Jesus Cristo esteve na Terra.
Esses textos são considerados apócrifos (falsos) pela Igreja Católica, pois apresentam informações, posicionamentos e filosofias condenadas pela instituição. No entanto, inúmeros pesquisadores e especialistas no tema debruçam-se sobre eles, já que os manuscritos fornecem “pistas” mais concretas sobre Maria Madalena histórica e não apenas deduções.
Nesses escritos, encontra-se um perfil completamente diferente para essa mulher que é trazida pela pesquisadora Elaine Pagel como “uma das maiores discípulas e seguidoras de Jesus. Uma pessoa privilegiada que fazia parte de seu círculo pessoal, mas todos os evangelhos do Novo Testamento insistem que ela não fazia parte desse círculo íntimo. O círculo era formado por Pedro, Tiago e João. E os evangelhos que mostram apenas “homens”, como pessoas de autoridade nas igrejas, foram os únicos a sobreviver. ”
No Evangelho de Maria Madalena, na máxima 19, Jesus dirige-se a Madalena e afirma: “ Tu és abençoada mais do que todas as mulheres na Terra, porque serás a plenitude de todas as plenitudes e a perfeição de todas as perfeições. ” Mas, por que o Mestre fala assim? Maria de Magdala era uma mulher letrada, com um vasto conhecimento literário, dona de posses que financiava o projeto de Jesus e além disso tudo, era um espírito evoluído a tal ponto que compreendia perfeitamente as mensagens transmitidas pelo Nazareno.
Ela estabelecia uma relação de intimidade e total sintonia com os ensinamentos propostos, fato que nem sempre ocorria com os demais discípulos devido a suas limitações intelectuais e psicológicas.
Entender o cenário histórico da época é fundamental para compreensão desses “equívocos” acerca da figura feminina naquela sociedade e na construção do Cristianismo a partir da Igreja Católica.
Atribui-se a um sermão do papa Gregório Magno, no final do século VI d.C., a vinculação do nome de Maria Madalena a citação anônima feita no evangelho de Lucas (7:36-50) “certa mulher, conhecida na cidade como pecadora”. Imediatamente, após essa citação de Lucas, aparece o nome de Maria Madalena (Lc 8). Além disso, a cidade natal de Magdala, era conhecida por muitos prostíbulos e locais de ‘bebedeiras’.
A própria Igreja Católica, no ano de 1969, durante o Concílio Vaticano II, escreve uma revisão da doutrina oficial, na qual a imagem de Maria Madalena não seria associada a uma “prostituta” já que não existe nenhuma fonte histórica que comprove isso. Segundo alguns historiadores, essa imagem foi difundida por séculos com o intuito de “apagar” a influência da apóstola que foi reconhecida posteriormente por Rabano Mauro e São Tomás de Aquino, “apóstola dos apóstolos”, sendo ela a anunciadora primeira: “ Vi o Senhor! ”.
O objetivo dessa discussão não é tratar sobre feminismo ou que esse espírito de luz necessite de aplausos ou reconhecimentos da nossa parte, mas é necessário aprendermos com essa mulher que estabeleceu uma conexão profunda com o Cristo, abdicou de seus bens materiais em prol da divulgação da Boa Nova e o quanto as estruturas sociais são cruéis frente aqueles que não se adequam a determinadas convenções.
Maria de Magdala é sinônimo de dedicação, doação, estudos e testemunho prático do amor de Jesus.
Referências:
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 171ª edição, 2008.
Boberg, José Lázaro. O Evangelho de Maria Madalena. Editora EME. Capivari – SP. 2019.
Artigo: MARIA MADALENA, APÓSTOLA DOS APÓSTOLOS! Disponível em:
https://xaverianos.org.br/noticias-e-artigos/teologia/1146-maria-madalena-apostola-dos-apostolos. Acesso em 06 de agosto de 2020.
817. 0 homem e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos?
— Deus não deu a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?
818. De onde procede a inferioridade moral da mulher em certas regiões?
— Do domínio injusto e cruel que o homem exerceu sobre ela. Uma consequência das instituições sociais e do abuso da força sobre a debilidade. Entre os homens pouco adiantados do ponto de vista moral a força é o direito
(O Livro dos Espíritos, Allan Kardec).
1010 comments
Post a commentMadalena
Comentário
Feliz em ver uma caminheira,oriunda dos cursos da nossa Casa, publicando esse estudo tão atual ao nosdo tempo.
Excelente, Viviane!
Parabéns Vivi
Parabéns
Parabéns, Vivi
Maria de Magsala
Que pesquisa linda
Na contramão do presente
Sente
Fala
Nos alimenta
Teima na temática
Gramática articulada
Com Madalena
Muitas Marias
De nós mesmos